A realidade ESG (Environmental, Social and Governance) ou em português ASG (Ambiental, Social e Governança), crescente nas últimas décadas no mundo corporativo, ganha tração nos últimos anos, com a adesão do sistema financeiro (bancos, investidores, etc.), exigindo das empresas uma reflexão profunda de como integrar estas dimensões à estratégia de negócio das empresas.

Por anos, as empresas focaram em lucro a qualquer preço, priorizando shareholders (acionistas) e resultados de curto prazo, causando impactos negativos à sociedade e ao planeta, e comprometendo a capacidade de gerações futuras. O movimento ESG chega com o propósito do desenvolvimento sustentável, e busca realinhar a contribuição social das empresas com as grandes questões do mundo atual, de forma que a mesma esteja refletida no contexto competitivo dos negócios.

Neste cenário, além do critério econômico, passam a ser considerados na avaliação do desempenho empresarial critérios relacionados às dimensões ambientais, sociais e de governança.

Adotar posicionamento favorável a temas ambientais, sociais ou de governança já não é mais o que se espera das empresas. Mais do que levantar bandeiras, espera-se que as empresas revisem seus propósitos à luz das prioridades definidas para o mundo, no que tange à preservação do meio ambiente, à responsabilidade social inclusiva, e a boas práticas de governança corporativa.

Todas as partes interessadas, são chamadas a se engajar e assumem papel relevante na estratégia de negócios sustentáveis e responsáveis, que podem ser definidos como “atividade econômica orientada para a geração de valor econômico-financeiro, ético, social e ambiental, cujos resultados são compartilhados com os públicos afetados. Sua produção e comercialização são organizadas de modo a reduzir continuamente o consumo de bens naturais e de serviços ecossistêmicos, a conferir competitividade e continuidade à própria atividade e a promover e manter o desenvolvimento sustentável da sociedade (Ethos) ”. 

A nova gestão empresarial e o ESG

Bem-vindos a uma nova era da gestão empresarial – o Capitalismo dos Stakeholders, lançado no Davos Manifesto 2020: O Objetivo Universal de uma Empresa na Quarta Revolução Industrial, na comemoração dos 50 anos do Fórum Econômico Mundial, pelo seu fundador Klaus Schwab. 

O manifesto aponta para a importância de dar voz a todas as partes interessadas na criação de valor compartilhada e sustentada. Dessa forma uma empresa deixa de atender somente os seus acionistas, e amplia o seu foco para demais stakeholders – funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais e a sociedade em geral, com diversidade e defensores do meio ambiente, através de harmonização de interesses e compromisso compartilhado com políticas e decisões que fortalecem a prosperidade de longo prazo de uma empresa. ”

A agenda ambiental – primeira dimensão do ESG, que parece ser mais aderente a determinados segmentos de negócio, acaba impactando todos os segmentos quando se considera a necessidade de análise de toda a cadeia de negócios das empresas. Dentre as três dimensões do ESG, esta parece ser a mais evoluída a nível de clareza de objetivos e possibilidades de métricas.

Temas relacionados à ação das empresas com possível impacto em mudanças climáticas, no ecossistema e na biodiversidade, assim como as consequências que estes fatores podem exercer sobre os negócios já são considerados inclusive em rates de avaliação de empresas. 

ESG e a dimensão social

Na dimensão social, comum a todas as empresas, independente do segmento de atuação, e também extensiva a toda sua cadeia, configuram como principais questões a equidade de gêneros, raças e credos, a importância da diversidade, e a preocupação com as condições de trabalho e direitos humanos. Esta dimensão também apresenta estágio moderado de maturidade no que tange à métricas para mensuração, com KPI’s bem definidos quanto à satisfação e engajamento de colaboradores com as condições de trabalho, e participação de gêneros e raças nos quadros e em posições de liderança, com ênfase para o C-Level e o Conselho.

Apesar de diversos estudos demonstrarem os benefícios da diversidade nos quadros das empresas, ainda existe uma grande oportunidade na prática, quando avaliamos a representatividade de homens, brancos e hetero ocupando posições de destaque no mundo corporativo.

Por último, a dimensão Governança, sustentada pelos aspectos relacionados aos pilares da Governança – Transparência, Equidade, Responsabilidade Corporativa e Accountability (Prestação de Contas), parece ser a menos madura em termos de métricas e materialidade, mas já aponta como caminhos a serem percorridos pelas empresas, a implantação de Conselhos Consultivos com profissionais independentes e qualificados, além de Programas de Integridade e de Gestão de Riscos.

A dimensão tem grande expressão no novo contexto do capitalismo dos stakeholders, diante do enorme desafio de mapeamento e harmonização de interesses divergentes e legítimos de todos os públicos, sem deixar perder o foco na sustentabilidade do negócio, que, segundo o Conceito da Governança Integral (A Reinvenção da Empresa Projeto Ômega) está sustentada em três pilares – estratégia, liderança e saúde da empresa.

O que parece ser comum a todas as dimensões é a importância do engajamento das atuais lideranças como protagonistas do movimento de mudança que as empresas precisam fazer, para seguir no jogo competitivo. E neste cenário cabe destacar a importância do nosso papel, enquanto Conselheiro Independentes, em nos aprofundarmos no tema para conscientizar atuais lideranças (famílias empresárias e executivos) do seu papel de agentes de mudança e garantir a sua priorização nas agendas dos Conselhos onde atuamos.

Espero com este artigo, abrir caminho para debates que ajudem as empresas a acelerar suas agendas ESG.

Autora: Luciene Dias