O mercado financeiro, representado pelos bancos e pelos investidores vem amadurecendo a inclusão das dimensões ESG na análise de desempenho de negócios para fins de investimentos e/ou créditos, o que tem acelerado a priorização dessa agenda nas empresas, como forma de manter sua capacidade de captação de recursos.

Diz o ditado popular, que a mudança vem pelo amor ou pela dor. Empresas que ainda não aderiram à agenda ESG, por questões de propósito e valores alinhados com o bem-estar da sociedade atual e das próximas gerações (amor), serão obrigadas a pegar o trem andando (e quanto mais tarde pior, porque a velocidade do trem vai aumentando), pela limitação de acesso a recursos de terceiros (dor). Brincadeiras a parte, mas o lúdico ajuda a tangibilizar conceitos que podem parecer distantes e abstratos para alguns empresários que ainda se negam a dedicar tempo para agenda ESG, achando tratar-se de mais um modismo temporário. 

Pois bem, empresas precisam de recursos para operar seus negócios e gerar valor aos seus stakeholders. Dentre os diversos tipos de recursos necessários, podemos classificar o financeiro como básico, pois ele permite contratar ou desenvolver os demais, sejam eles humanos ou materiais. E se considerarmos que a principal fonte de recursos financeiros para uma empresa é o capital de terceiros, e este, seja na forma de investimento ou de crédito, já inclui nos seus modelos de valoração de negócios, análises quanto as dimensões ESG, as empresas que quiserem seguir no cenário competitivo, precisam rever seus modelos de negócio, priorizando o tema.

Os bancos, com foco no crédito e na liquidez dos seus ativos, desde 2002, com a criação dos Princípios do Equador, que surge como uma ferramenta de gestão financeira para projetos sustentáveis, vem tornando seus critérios cada vez mais sensíveis aos riscos das empresas relacionados às dimensões ESG.    

Os Princípios do Equador, adotados por mais de 110 instituições financeiras ao redor do mundo, contêm uma estrutura de gerenciamento de riscos de crédito voluntário e um conjunto de diretrizes para avaliação de riscos ambientais e sociais em atividades de gestão financeira de projetos. Dessa forma, com a adoção de requisitos mais claros e rigorosos para financiamentos, espera-se que os riscos e impactos climáticos à biodiversidade e a direitos humanos e sociais passem a ser melhor considerados em todas as etapas do ciclo de vida dos projetos.

Em paralelo, a FEBRABAN que já vinha mensurando o volume de crédito bancário a setores da “Economia Verde” desde 2015, a partir do CNAE (Classificação Nacional das Atividades Econômicas) das empresas, passa a adotar novo critério a partir de 2020, com a nova classificação das atividades econômicas sob a ótica socioambiental e climática, denominada Taxonomia Verde. Com esta revisão, a Federação reforça os objetivos de auxiliar o setor na transição para a economia verde, além de apoiar um melhor gerenciamento de riscos socioambientais e climáticos das carteiras dos bancos.

Enquanto os bancos (credores) focam no curto prazo, o que lhes garante maior flexibilidade de correções de rotas, os investidores que focam no longo prazo necessitam ser ainda mais rigorosos com relação aos riscos envolvidos, em busca de maior segurança nos seus investimentos.

No âmbito do investidor, além da gestão de riscos, já explorado na avaliação do segmento bancário, merece destaque o alinhamento de propósitos entre investidores e investidos. O investidor/acionista exerce função relevante, como detentor do capital, na priorização de projetos que estejam alinhados com as grandes questões da sociedade, como a sustentabilidade do planeta e o futuro das próximas gerações. E desse alinhamento surgem os conceitos de Investimento Socialmente Responsável (SRI), Ativismo do Acionista, e Investimento de Impacto, etc. 

No Brasil, os SRI nascem em 2000, no Unibanco, com o 1º.  Serviço de pesquisa ISR em mercado emergente, e chega a 2020, com R$ 1,24 bi de investimentos ESG, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Esse valor ainda é pouco expressivo se considerarmos o total de ativos em custódia de R$ 8 tri, disponível no relatório da ANBIMA de março de 2021. 

O Brasil tem uma grande oportunidade de crescimento no tema, e a tendência é que, com aproximadamente 70% das instituições administradoras de recursos, no Brasil, já possuindo alguma formalização quanto à política de investimento responsável, o crescimento seja acelerado nos próximos anos.

Para sustentar este posicionamento do mercado investidor surgem métricas relevantes – The sdEffect, ESG Rating e Índices de Sustentabilidade, que ajudam a priorizar os investimentos mais ajustados à agenda ESG.

O primeiro Índice de Sustentabilidade, data de 1999, nos EUA – Dow Jones Sustainability Index. No Brasil, o primeiro surge em 2005, da Bovespa (FGV) – ISE Índice de Sustentabilidade, e o da B3 – ISE,ICO2, Índice S&P/B3BrasilESG é o mais recente. 

O tema ESG entrou de vez no radar dos investidores, e o índice foi projetado para que os investidores alcancem suas metas de investimento ESG enquanto atingem performances alinhadas com as do mercado, segundo Reid Steadman, diretor executivo e Chefe Global de Índices ESG da S&P DJI. Ele garante aos investidores exposição central ao mercado de ações brasileiro, ao mesmo tempo em que promove as empresas com as melhores avaliações ESG.

Na avaliação de Gleice Donini – superintendente de Sustentabilidade da B3, “Num momento em que a agenda ESG se torna cada vez mais relevante para investidores no mundo todo, a B3 traz para o mercado um novo índice para compor seu portfólio. O ISE e o ICO2 já são referenciais da temática para os investidores, e nossa estratégia é proporcionar a eles mais uma alternativa nesse segmento”

Nesse cenário, fica claro que a integração da agenda ESG não é uma opção, para empresas que desejam seguir no jogo competitivo do mercado, é o caminho.

Autora: Luciene Dias